Jongo ou Caxambu
De raízes africanas, é uma manifestação cultural de origem rural, já que surgiu nas fazendas cafeeiras e canavieiras da região sudeste do Brasil.
O Jongo chegou ao Brasil através de negros da etnia Bantu, que foram sequestrados dos reinos de Ndongo e do Kongo, que atualmente fazem parte da República de Angola.
No Brasil, o negro forçado a trabalhar no regime de escravidão via no final do eito a oportunidade para desfrutar de momentos onde se descontraía, lamentava e criticava a sua condição subumana, e o Jongo era a maneira utilizada para isso; como não podia se expressar de forma direta, o escravo utilizava-se dos “pontos amarrados” do Jongo.
O povo Bantu teve grande influência na cultura brasileira, prova disso é que o Jongo é considerado um dos precursores do samba atual.
A palavra Jongo pode ser traduzida como divertimento e é o legado deixado pelo povo do cativeiro.
O Ponto do Jongo
Utilizado para comunicação, o ponto de Jongo é cifrado, ou seja, canta-se algo, porém, querendo dizer outra coisa. Para entender um ponto é preciso decifrá-lo. Essa astúcia era utilizada para enganar os senhores de escravos e seus feitores.
O ponto é “tirado” por um solista, os versos são livres e improvisados, o que exige muita criatividade; logo em seguida, o refrão é repetido por todos que participam da roda de Jongo.
A dança
É formada uma roda onde um casal dança no centro enquanto os demais participantes giram no sentido anti-horário. Para outro jongueiro entrar é preciso pedir licença ao que está no centro da roda.
Os instrumentos
O Jongo é “tirado” e dançado ao som de tambores. São eles: caxambu ou tambu, que tem som grave, e o candongueiro, que tem o som agudo; em alguns lugares é também acompanhado por uma cuíca de som grave e chocalhos de palha trançada. Antes da roda começar, os tambores são expostos ao calor de uma fogueira; isso faz com que o couro se estique, afinando os instrumentos.
Gravado no Revelando São Paulo em Atibaia
No jogo do Jongo - Poesia
Arrancaram-me do meu torrão
Forçaram-me a caminhar em um oceano de areia
E atravessar um deserto de água
Tiraram o meu chão.
Nas savanas caminhava livre como o leão
Era aguerrido como o ratel
Desembarcado em terra estranha me senti ao léu
Saído da nau da covardia me vi obrigado a erguer uma nova nação.
A saudade era grilhão constante
Das danças nos terreiros
E do lugar onde vivia feliz
Restavam-me apenas sonhos errantes.
Em terra em que não tenho valor
Vida na mão do feitor
História construída com dor
Da alma a paz é o clamor.
Senzala morada da agonia
Cela para o final do dia
Onde o único direito era a cantoria
Findado o eito os pontos de Jongo me acalentariam.
Não tinha o direito de falar, tampouco de sonhar...
No falar vinha o castigo, no cantar o engabelar
Feitor não sabia, mas a cantoria era forma de dialogar
E foi no jogo do Jongo que a vida veio a se apoiar.
Surgiu então uma ventania
Quebrando os grilhões da covardia
Jongueiro dançava sob a benção da alforria
E o Jongo passou a ser expressão da alegria.
Em tempos distantes, só para os iniciados
Nos dias presentes, para os interessados
Batuque que lembra histórias de desventurados
Mas, que também é orgulho de um povo
Que mantém viva a alma de seus antepassados...
Jailson Almeida
Saiba mais sobre o Jongo, visite:
http://jongodepiquete.multiply.com/
http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/txtcompletos/sem19/COLE_3465.pdf